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sexta-feira, 17 de agosto de 2012

O PROFANO




Por Rudson Mazzorana


Nunca conheci a cara da inocência
Aprecio a nudez, estupro a decência
Mastigo as regras, perco a paciência
Quebro tabus, encaro a penitência

Não sou herói nem tampouco bandido
Ando pelado, rasgo cueca ou vestido
Tenho pouco corpo para muita libido
Fogo na mente, sem controle e sentido

Pele com febre e. na boca,  o inferno
Olhos nos olhos, esquento o inverno
Hoje comandante, amanhã subalterno
Vou desde o clássico até o ultramoderno

Vivo de sangue, de vinho, hóstia e pecado
Direto ao assunto, não mando recado
Com pernas bambas e corpo salgado
Já fui missionário, hoje sou teu criado

sábado, 4 de agosto de 2012

BICHO-GRILO






Por Rudson Mazzorana


Era um bicho com olhos turvos
Boca de esgoto, ombros curvos
Perdido no lixo, em cima do muro
Urrava e zunia com medo do escuro

Era um animal sem dente nem boca
Pensamento dormente na cabeça oca
Sonhos sem cor, sanidade estranha
Cheirava e roía osso e entranha

Era uma coisa de olhos enormes
Esperava por algo fora dos conformes
Comia inimigo por causa da fome
Matava e causava a dor que não dorme

Era um vertebrado com cara minguada
Bebia água dos olhos um tanto salgada
A casa era ponte, era rua ou calçada
Dormia no frio sem rumo ou estrada

Era largatixa ou quem sabe rato
Sem unha na pata com pé de pato
Orelha de ganso, cara de sapo
Nariz de cola com barriga e papo

Era um cão solitário de vida vazia
Era dor de cabeça, cólica e azia
De nome estranho, cicatriz e estria
Mesmo chorando ainda sorria

Era um bicho de pele amarela
Pescoço comprido, canela magrela
Parecia macaco, leão e pantera
Mas era criança de sonho e quimera